segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Observando a Realidade Escolar


*** Texto publicado como exercício acadêmico na disciplina Realidade Escolar e Trabalho Pedagógico, integrante do curso de especialização em Coordenação Pedagógica - UnB
Prof. Gilberto Alves Barbosa


 BRASÍLIA – MAIO/2012
INTRODUÇÃO
            O ponto de partida para as reflexões deste texto foi o vídeo Convivência Escolar – a violência na escola (TV Escola – MEC). Em dez minutos de projeção somos levados a uma viagem que nos remete ao nosso cotidiano escolar. Assim, tentar fazer uma reflexão sobre o tema em duas ou três laudas seria um exercício extenuante e poderia reduzir a sua importância no contexto educacional.
            Isto acontece porque, forçosamente, as situações ali retratadas nos levam a várias comparações com o nosso cotidiano e deixamos de ser simples expectadores e passamos a atuar como atores, pois muitos daqueles fatos ocorreram e ainda continuam a ocorrer em nossas instituições de ensino, notadamente as da rede pública.
            Ai surgem vários questionamentos: se ocorreram e ainda ocorrem, o que fazer? O que já foi feito, que mudanças provocou na escola e na vida destes alunos? e na vida do professor? São inúmeras as dúvidas e para tentar minimizá-las se faz necessário conhecer um pouco de cada um dos atores deste filme que não tem fim (ainda bem!) e tentar dialogar com os envolvidos nesta magistral trama que é a convivência escolar.
            Para isto temos que perceber e reconhecer que na “sala de aula existe todo tipo de motivações, de valores e de tensões e que o aluno não deixa sua “alma” em um armário para vir à aula” (Funes, citado por Antunes et al, 2002).
            A convivência diária entre atores com as mais variadas formações, desejos e expectativas de vida geram conflitos, que fazem parte importante do cotidiano escolar. Temos apenas que saber que existem escolas com mais conflitos que outras e que eles precisam ser administrados e daí vem a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma comunidade escolar.
MAS, QUEM É A NOSSA ESCOLA
            Massaguer (citado por Antunes, 2002) nos diz que a “escola é um ponto de encontro de pessoas de diferentes idades e procedências, com diferentes papéis e que se influenciam de forma intencional”.
            A partir daí podemos dizer que temos um “código” ou sinal para fazermos a leitura de que escola é esta; que escola queremos ter, que escola a sociedade espera ter, uma vez que a instituição escolar está inserida e tem papel de destaque nas instituições sociais. A escola, por seu turno, faz parte também de contexto administrativo regido por dispositivos legais que muitas vezes vão de encontro aos anseios de alunos, professores e comunidade escolar. Mas precisa fazer parte desta rede para sobreviver.
QUEM É NOSSO ALUNO
            O aluno da rede publica de ensino há muito deixou de ser aquele passivo recebedor da educação bancária, ferozmente combatida por Paulo Freire, que já antevia e buscava esta mudança em nossos alunos.
            O aluno do “Hoje e do Agora” já chega à escola com um enorme referencial de vida: enfrenta, diariamente, vários desafios para sobreviver e chegar até a sala de aula. Ele traz também vários saberes, negados e até mesmo ignorados por muitos educadores, saberes estes que, na maioria das vezes, precisa ser sistematizado, reorganizado para que possa ser aproveitado ao máximo.
            A atual geração chega à escola “bombardeada e encantada” com os recursos multimídia que a todo instante lhe é apresentada no contexto extraescolar: bate-papo com o mundo a um clique, viagens longínquas bastando mudar um canal e até mesmo enciclopédias e dicionários ao alcance de um “mouse”, um simples ratinho.
            Mas traz também graves conflitos familiares, sociais, e a dor por uma infância perdida. Mas é característica unânime o sentimento de querer integrar um grupo social, ser aceito, estimado, ter espaço de lazer e alegria.
QUEM É NOSSO PROFESSOR
            Como nos ensina sabiamente Paulo Freire em várias de suas aclamadas obras, “professor é gente” como a gente, tem seus problemas familiares, sociais, econômicos e também formação acadêmica nas mais variadas especialidades. Assim como os alunos, ele também traz para a escola seus anseios, expectativas e também o reflexo de sua estrutura familiar.
            Mas, ao contrário do aluno, ele deve trazer o “saber sistematizado, organizado”, adquirido ao longo de sua formação acadêmica e exercício do magistério. Um saber que deve estar pronto para ser compartilhado.
QUEM É NOSSA COMUNIDADE
            Para nossa tristeza, uma grande parcela da atual comunidade escolar é formada por “desenganados pela magia escolar, possuem uma visão simplista diferente daquela de outrora, onde acreditavam que a escola seria a “redentora” da sociedade”. Não que é esta antiga visão da escola seja a correta. Mas que a abertura dos olhos para o real papel da educação também tirou um pouco do brilho e da magia esperada com a educação dos filhos.
            Hoje, muitas famílias procuram a escola (principalmente nos anos iniciais, logo a base do sistema educacional!) não em busca do saber sistematizado, da cultura, mas sim como porto seguro para uma expectativa de alimentação, um lugar seguro em face da violência doméstica, a que muitas crianças estão expostas e submetidas. E se tudo vier acompanhado de um pouco de aprendizagem, muito bem!
            Podemos observar este comportamento durante os episódios de paralisação da categoria dos profissionais da educação. Ao invés de estarem preocupados com a interrupção do processo pedagógico, com a perda de conteúdo, ouve-se muito que aquela ação os deixa na mão por não terem com quem ficam os seus filhos, que não sabem como ocupar o seu tempo, e outras disparidades mais...


NÃO UMA CONCLUSÃO, MAS UM REINÍCIO DE CONVERSA...
            De posse destas informações, constamos que temos que, a partir destes exemplos ainda existentes em nossa realidade escolar, buscar as origens, causas e consequências e refletirmos que educação queremos para os nossos alunos, nossos filhos, nossa comunidade.
Conhecendo quem são e quais características possuem nossos atores do universo escolar, poderemos estabelecer, cientificamente, referenciais bibliográficos que darão suporte e fundamentação a nossa prática pedagógica.
A observação da realidade escolar, a partir de critérios rigorosamente científicos, desprovida de conceitos e preconceitos, permitirá que o educador retome o seu rumo, que ele encare os conflitos escolares, não como problemas, mas como objeto de estudo e caminho para a obtenção do sucesso, não apenas na escola, mas na vida. Que ele sinta prazer em ensinar e que o aluno sinta prazer em ser companheiro desta jornada.
REFERENCIAS
ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: buscando rigor e qualidade. http://www.scielo.br/pdf/cp/n113/a03n113.pdf acessado entre 30/04 e 06/05/2012.
ANTÚNEZ, Serafim (et al.) Disciplina e convivência na instituição escolar. Trad. Daisy Va de Moraes. Porto Alegre, Artmed, 2002.
CASTRO, Wanessa de. Roteiro de Orientações da Unidade I. Disciplina Metodologia do Trabalho Científico. Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica, UnB. http://coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/unb/mod/lesson/view.php?id=868 acessado entre 30/04 e 06/05/2012.
MARTINS, Jorge Santos. Projetos de Pesquisa: estratégias de ensino e aprendizagem em sala de aula. Armazém do Ipê (Autores Associados), Campinas, SP, 2007.
TV ESCOLA-MEC. Vídeo Convivência Escolar: a violência na escola, disponível emhttp://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=20288


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