*** Texto publicado como exercício acadêmico na disciplina Currículo, Cultura e Ambiente Escolar, integrante do curso de especialização em Coordenação Pedagógica - UnB
Prof. Gilberto Alves Barbosa
BRASÍLIA – JUNHO/2012
INTRODUÇÃO
Para falarmos um pouco sobre as concepções curriculares
presentes no dia-a-dia de nossa escola, faz-se necessário estabelecer
diferenças entre alguns termos existentes, que muitas vezes são utilizados como
se um fosse o sinônimo do outro e vice-versa.
Começamos pela definição de currículo feita por Zotti
(2012), e sem seguida “tomamos emprestada” (grifo nosso) a definição feita por
Coll (1996).
“Conforme o dicionário Houaiss
currículo é definido como “programação de um curso ou de matéria a ser
examinada”. O Dicionário Interativo da Educação Brasileira (http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp)
define currículo como o “Conjunto de disciplinas sobre um determinado
curso ou programa de ensino ou a trajetória de um indivíduo para o seu
aperfeiçoamento profissional".
Do ponto de vista etimológico, o
termo currículo vem da palavra latina Scurrere,
correr, e refere-se a curso, à carreira, a um percurso que deve ser realizado.
É utilizado para designar um plano estruturado de estudos” (Zotti, 2012)
“conteúdos são "o conjunto de formas
culturais e de saberes selecionados para integrar as diferentes áreas
curriculares em função dos objetivos gerais da área" (p.161 e 162) citado por Nuca-UFRJ.(Coll,
1996)
Atualmente
vivemos e vivenciamos nas escolas da rede pública de ensino do Distrito Federal
uma crise de identidade sem precedentes e isto não só interfere na condução do
processo ensino e aprendizagem, como no estabelecimento de políticas publicas
para o setor educacional.
Segundo
Gadotti (1998) a educação brasileira vivia e ainda vive o confronto de duas
grandes concepções pedagógicas: a concepção dialética e a concepção metafísica.
Abordando um pouco de cada uma delas, poderemos inferir qual o seu “grau de
interferência” (grifo nosso) no interior das escolas, notadamente as da rede
pública de ensino.
CONCEPÇÃO METAFÍSICA
Para
vários estudiosos e pesquisadores esta concepção trata o homem como o ser
supremo, a sua existência depende do que ele é enquanto homem. A educação para
esta corrente é vista como “caso particular” (grifo nosso) e decorre de uma
conquista individual.
CONCEPÇÃO DIALÉTICA
É
uma corrente em oposição à concepção metafísica, fundamentada no pensamento
dialético e se “dá pela elevação da consciência coletiva realizada
concretamente no processo de trabalho (interação) que cria o próprio homem
(Gadotti, 1998).
Esta
concepção vê o homem como um ser político, coletivo, em constante luta contra
os valores impostos/estabelecidos pela burguesia. A escola é palco de uma “luta
de classes”. (grifo nosso).
A REALIDADE EM NOSSAS ESCOLAS
Temos
notado que, em face de um “obscurecimento pedagógico” e uma “perda temporária”
(grifos nosso) que aconteceram nos últimos anos, esta luta tem acontecido na
surdina em nossas escolas e reflete diretamente no cotidiano escolar.
Em
meados dos anos 80, aproveitando o embalo proporcionado pelos ares democráticos
respirados a todo vapor, a rede pública de ensino do Distrito Federal adotou
como um dos baluartes de sua missão a implantação da tendência pedagógica
Crítico-Social dos Conteúdos.
Foi
um período de “efervescência pedagógica” (grifo nosso), muita produção
acadêmica, muitas reuniões e discussões buscando caminhos para o sucesso
escolar.
A
grande lista de conteúdos serviria de recurso auxiliar para o aluno superar as
dificuldades impostas pelo seu dia a dia. Os conteúdos seriam um “elemento
político” (grifo nosso) nesta jornada. O currículo ganha significação a partir
da sua intencionalidade e participação coletiva.
Contudo,
por ser uma unidade da federação onde a “luta de classes” (grifo nosso) tem
oponentes claros e definidos, iniciou-se um período de estagnação pedagógica,
embalde os esforços empreendidos pelos educadores comprometidos com a mudança.
Isto
durou até o ano de 1995, quando iniciou-se um novo período de “gestão
pedagógica” (grifo nosso) na rede pública de ensino do DF. Uma vez mais o
componente político iria interferir diretamente no fazer pedagógico: foi
iniciada a implantação de uma nova concepção de currículo. Este período teve
uma curta duração e seus propósitos pedagógicos foram abortados a partir de
1999.
As
concepções de currículo educacional até então vigentes “foram esquecidas”
(grifo nosso) e contínuas ações foram realizadas para apagar da memoria dos
participantes tais projetos.
E
isto acabou fazendo com que, na maioria das escolas, apesar dos esforços de
abnegados estudiosos, a concepção de currículo para as escolas da rede pública
de ensino fosse considerada a partir da importância do conteúdo programático
existente. É a perspectiva que Vasconcellos (2007, p.133) define como “sonho de
certos administradores escolares que buscam um currículo “à prova” de alunos,
professores e realidade, qual seja, que seria desenvolvido com eles ou apesar
deles”.
Por
isto, atualmente, muitas escolas da rede pública passam por sérias crises de
identidades político-pedagógicas. Quer se respirar ares mais democráticos, quer
se discutir novos caminhos com a comunidade escolar, mais tudo isto é olhada
com desconfiança, medo e até mesmo descrédito por parte de muitos. E muitas até
querem implantar novos programas e projetos e ainda não descobriram o “como
fazer” (grifo nosso).
CONCLUSÃO
Novamente,
depois de mais uma década, vive-se a oportunidade de termos um currículo que
privilegie e dê sentido às atividades que são tomadas, coletivamente, no
interior das escolas.
Sabemos
que será uma árdua tarefa “reconquistar este espaço” (grifo nosso), uma vez que
a formação acadêmica do profissional da educação, sua vivência política e seus
credos, poderão fazer com que ao contrário de uma concepção progressista,
libertadora, o profissional em seu espaço aplique o “currículo oculto” (grifo
nosso) e deixe de lado aquele projeto coletivamente discutido, elaborado e
pronto para ser aplicado.
Mas
temos a certeza de que aqueles “lutadores de outrora” (grifo nosso) continuarão
atentos e estarão na vanguarda para garantir que o currículo de nossas escolas
não seja apenas uma proposta feita pelo Estado para garantir um preceito
constitucional, mas que seja sim, um importante documento que vise dar sentido
aquilo tudo que está acontecendo no interior de nossas escolas e que foi
coletiva e participativamente construído.
REFERENCIAS
GADOTTI,
Moacir.
Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. São Paulo: Cortez,
1988.
LIMA, E. S. Indagações sobre currículo: Currículo e desenvolvimento humano.
Organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia
Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, 2008. 56 p. (p.17-23). Disponível em http://coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/unb/file.php/5/moddata/data/251/277/327/LIMA_E._S._Indagacoes_sobre_curriculo_Curriculo_e_desenvolvimento_humano.pdf
e acessado entre 20 e 24/06/2012
MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa; CANDAU,
Vera Maria. Educaçao escolar e cultura(s): construindo caminhos. Rev. Bras. Educ., Rio de
Janeiro, n. 23, ago. 2003 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782003000200012&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 24 jun. 2012.
SCHEIBE, Leda; BOMBASSARO, Ticiane.
O papel do currículo como espaço de
formação humana. In: Universidade
Federal de Pernambuco/Coordenação de Educação a Distância da UFPE. Curso de
Pós-Graduação Lato Sensu em
Coordenação Pedagógica. Coordenação Sala ambiente currículo, cultura e
conhecimento escolar. (p.7-9), disponível em http://coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/unb/file.php/5/moddata/data/251/277/325/O_papel_do_curriculo_como_espaco_de_formacao_humana.pdf
e acessado no período de 20 a 24/06/2012
VASCONCELOS, Celso dos S.
Coordenação do Trabalho Pedagógico - do trabalho político-pedagógico ao
cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2007.
ZOTTI, Solange Aparecida.
Verbete disponível em http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_curriculo.htm,
acessado em 24/06/2012.
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