terça-feira, 16 de setembro de 2014

As diferentes concepções de currículo e sua aplicação e implicações no dia-a-dia do cotidiano escolar


*** Texto publicado como exercício acadêmico na disciplina Currículo, Cultura e Ambiente Escolar, integrante do curso de especialização em Coordenação Pedagógica - UnB
Prof. Gilberto Alves Barbosa


BRASÍLIA – JUNHO/2012
INTRODUÇÃO
            Para falarmos um pouco sobre as concepções curriculares presentes no dia-a-dia de nossa escola, faz-se necessário estabelecer diferenças entre alguns termos existentes, que muitas vezes são utilizados como se um fosse o sinônimo do outro e vice-versa.
            Começamos pela definição de currículo feita por Zotti (2012), e sem seguida “tomamos emprestada” (grifo nosso) a definição feita por Coll (1996).
“Conforme o dicionário Houaiss currículo é definido como “programação de um curso ou de matéria a ser examinada”. O Dicionário Interativo da Educação Brasileira (http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp) define currículo como o “Conjunto de disciplinas sobre um determinado curso ou programa de ensino ou a trajetória de um indivíduo para o seu aperfeiçoamento profissional".
Do ponto de vista etimológico, o termo currículo vem da palavra latina Scurrere, correr, e refere-se a curso, à carreira, a um percurso que deve ser realizado. É utilizado para designar um plano estruturado de estudos” (Zotti, 2012)
“conteúdos são "o conjunto de formas culturais e de saberes selecionados para integrar as diferentes áreas curriculares em função dos objetivos gerais da área" (p.161 e 162) citado por Nuca-UFRJ.(Coll, 1996)

            Atualmente vivemos e vivenciamos nas escolas da rede pública de ensino do Distrito Federal uma crise de identidade sem precedentes e isto não só interfere na condução do processo ensino e aprendizagem, como no estabelecimento de políticas publicas para o setor educacional.
            Segundo Gadotti (1998) a educação brasileira vivia e ainda vive o confronto de duas grandes concepções pedagógicas: a concepção dialética e a concepção metafísica. Abordando um pouco de cada uma delas, poderemos inferir qual o seu “grau de interferência” (grifo nosso) no interior das escolas, notadamente as da rede pública de ensino.

CONCEPÇÃO METAFÍSICA
            Para vários estudiosos e pesquisadores esta concepção trata o homem como o ser supremo, a sua existência depende do que ele é enquanto homem. A educação para esta corrente é vista como “caso particular” (grifo nosso) e decorre de uma conquista individual.

CONCEPÇÃO DIALÉTICA
            É uma corrente em oposição à concepção metafísica, fundamentada no pensamento dialético e se “dá pela elevação da consciência coletiva realizada concretamente no processo de trabalho (interação) que cria o próprio homem (Gadotti, 1998).
            Esta concepção vê o homem como um ser político, coletivo, em constante luta contra os valores impostos/estabelecidos pela burguesia. A escola é palco de uma “luta de classes”. (grifo nosso).

A REALIDADE EM NOSSAS ESCOLAS
            Temos notado que, em face de um “obscurecimento pedagógico” e uma “perda temporária” (grifos nosso) que aconteceram nos últimos anos, esta luta tem acontecido na surdina em nossas escolas e reflete diretamente no cotidiano escolar.
           
            Em meados dos anos 80, aproveitando o embalo proporcionado pelos ares democráticos respirados a todo vapor, a rede pública de ensino do Distrito Federal adotou como um dos baluartes de sua missão a implantação da tendência pedagógica Crítico-Social dos Conteúdos.
            Foi um período de “efervescência pedagógica” (grifo nosso), muita produção acadêmica, muitas reuniões e discussões buscando caminhos para o sucesso escolar.
            A grande lista de conteúdos serviria de recurso auxiliar para o aluno superar as dificuldades impostas pelo seu dia a dia. Os conteúdos seriam um “elemento político” (grifo nosso) nesta jornada. O currículo ganha significação a partir da sua intencionalidade e participação coletiva.
            Contudo, por ser uma unidade da federação onde a “luta de classes” (grifo nosso) tem oponentes claros e definidos, iniciou-se um período de estagnação pedagógica, embalde os esforços empreendidos pelos educadores comprometidos com a mudança.
            Isto durou até o ano de 1995, quando iniciou-se um novo período de “gestão pedagógica” (grifo nosso) na rede pública de ensino do DF. Uma vez mais o componente político iria interferir diretamente no fazer pedagógico: foi iniciada a implantação de uma nova concepção de currículo. Este período teve uma curta duração e seus propósitos pedagógicos foram abortados a partir de 1999.
            As concepções de currículo educacional até então vigentes “foram esquecidas” (grifo nosso) e contínuas ações foram realizadas para apagar da memoria dos participantes tais projetos.
            E isto acabou fazendo com que, na maioria das escolas, apesar dos esforços de abnegados estudiosos, a concepção de currículo para as escolas da rede pública de ensino fosse considerada a partir da importância do conteúdo programático existente. É a perspectiva que Vasconcellos (2007, p.133) define como “sonho de certos administradores escolares que buscam um currículo “à prova” de alunos, professores e realidade, qual seja, que seria desenvolvido com eles ou apesar deles”.
            Por isto, atualmente, muitas escolas da rede pública passam por sérias crises de identidades político-pedagógicas. Quer se respirar ares mais democráticos, quer se discutir novos caminhos com a comunidade escolar, mais tudo isto é olhada com desconfiança, medo e até mesmo descrédito por parte de muitos. E muitas até querem implantar novos programas e projetos e ainda não descobriram o “como fazer” (grifo nosso).

CONCLUSÃO
            Novamente, depois de mais uma década, vive-se a oportunidade de termos um currículo que privilegie e dê sentido às atividades que são tomadas, coletivamente, no interior das escolas.
            Sabemos que será uma árdua tarefa “reconquistar este espaço” (grifo nosso), uma vez que a formação acadêmica do profissional da educação, sua vivência política e seus credos, poderão fazer com que ao contrário de uma concepção progressista, libertadora, o profissional em seu espaço aplique o “currículo oculto” (grifo nosso) e deixe de lado aquele projeto coletivamente discutido, elaborado e pronto para ser aplicado.
            Mas temos a certeza de que aqueles “lutadores de outrora” (grifo nosso) continuarão atentos e estarão na vanguarda para garantir que o currículo de nossas escolas não seja apenas uma proposta feita pelo Estado para garantir um preceito constitucional, mas que seja sim, um importante documento que vise dar sentido aquilo tudo que está acontecendo no interior de nossas escolas e que foi coletiva e participativamente construído.

REFERENCIAS
GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. São Paulo: Cortez, 1988.
LIMA, E. S. Indagações sobre currículo: Currículo e desenvolvimento humano. Organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. 56 p. (p.17-23). Disponível em http://coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/unb/file.php/5/moddata/data/251/277/327/LIMA_E._S._Indagacoes_sobre_curriculo_Curriculo_e_desenvolvimento_humano.pdf e acessado entre 20 e 24/06/2012

MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa; CANDAU, Vera Maria. Educaçao escolar e cultura(s): construindo caminhos. Rev. Bras. Educ.,  Rio de Janeiro,  n. 23, ago.  2003 .  Disponí­vel em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782003000200012&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  24  jun.  2012. 

SCHEIBE, Leda; BOMBASSARO, Ticiane. O papel do currículo como espaço de formação humana. In: Universidade Federal de Pernambuco/Coordenação de Educação a Distância da UFPE. Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Coordenação Pedagógica. Coordenação Sala ambiente currículo, cultura e conhecimento escolar. (p.7-9), disponível em http://coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/unb/file.php/5/moddata/data/251/277/325/O_papel_do_curriculo_como_espaco_de_formacao_humana.pdf e acessado no período de 20 a 24/06/2012

VASCONCELOS, Celso dos S. Coordenação do Trabalho Pedagógico - do trabalho político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2007.

ZOTTI, Solange Aparecida. Verbete disponível em http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_curriculo.htm, acessado em 24/06/2012.


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