segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A Coordenação Pedagógica e o novo perfil de aluno que temos em nossas escolas: problemas, desafios e alternativas


*** Texto publicado como exercício acadêmico na disciplina Realidade Escolar e Trabalho Pedagógico, integrante do curso de especialização em Coordenação Pedagógica - UnB
Prof. Gilberto Alves Barbosa

BRASÍLIA – ABRIL/2012
INTRODUÇÃO:
            O estudo e a abordagem de uma temática como esta, nos exige reflexão, autocritica e um posicionamento político-pedagógico frente a atual realidade educacional brasileira.
            O primeiro teste é encarar o questionamento “o que tem o aluno a ver com o nosso trabalho de coordenador pedagógico, se vou tratar apenas com professores? Ele é que tem que se preocupar com o aluno, não eu!”
            Terrível engano! Pois como nos esclarece Vasconcelos, em sua obra Coordenação do Trabalho Pedagógico - do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula, (Libertad, 2007), “O trabalho pedagógico é o âmago das instituições de ensino... Implica tanta a atividade docente quanto a discente, já que a aprendizagem, embora, se dando num contexto social, depende, antes de tudo, da ação do aluno”.
            E quem é este aluno?

QUEM FOI NOSSO ALUNO, QUAL ERA O SEU PERFIL?
            Para responder a este questionamento e para conhece-lo melhor, devemos conhecer a sua “infância histórica”, seus diversos mundos, pois isto é que os caracterizava. Buscamos conhece-lo recorrendo uma vez mais a Gadotti, que em sua obra Historias das Ideias Pedagógicas (Ática, 2007).
            Na cultura oriental primitiva o aluno era mandado para a escola para iniciar-se na vida e aprendia muito mais pela imitação e pela fala dos adultos. Outra característica marcante desta época já era a prática da não violência.
            Na cultura grega, berço dos nossos antepassados pedagógicos e também fonte inspiradora, os alunos eram educados dentro de uma racionalidade, buscando a defesa dos seus direitos pela argumentação. Olha ai a origem dos tantos porquês que diariamente escutamos. Também ali deu-se início ao processo de competitividade no ambiente escolar, uma vez que eram várias as correntes pedagógicas que procuravam fazer valer o seus princípios e objetivos.
            Outra cultura que não podemos desprezar daquele período é a romana, que teve como marca o humanismo pedagógico.
            Mais recentemente, a partir do século XVII, começa o pensamento pedagógico moderno, com a implantação da ciência em lugar da fé. Os padrões esperados dos alunos foram inicialmente estabelecidos por Comênio.
            A revolução francesa, já no século XVIII fundamenta um novo perfil para o nosso aluno, que passa a ter um mundo próprio e que precisa ser compreendido.
            A massificação da educação a partir deste período, como forma de diminuir as desigualdades existentes, propicia o surgimento de várias correntes pedagógicas, mudando o perfil de nosso aluno e que tiveram influências diretas no pensamento pedagógico brasileiro.
            Já as correntes socialistas, que pregavam uma educação política, dava ao professor a missão de ser um “militante ativo” e aos alunos-aprendizes, a característica da auto-organização e autonomia de estudos.
            O escolanovismo veio a ser um potente movimento de renovação, propondo por intermédio de Dewey (1859-1952), uma “ensino pela ação e não pela instrução”. O aluno deveria aprender a partir de situação-problema. Surgiu ai o início do trabalho com projetos escolares.
            Paulo Freire surge neste momento nos revelando que a “escola podia servir tanto para a educação como prática de dominação, quanto para a educação enquanto prática da liberdade”.
            E foi a partir deste momento que acirram-se as críticas aos antigos e tradicionais métodos de educação. Bourdieu, Althusser e Passeron “enxergaram” a função ideológica da escola e o papel do aluno neste processo.
            Já os pensadores brasileiros, ligados às correntes críticas e libertadoras da educação, começaram a questionar as relações de poder na escola. Tragtemberg enxerga a escola como disciplinadora e burocrática e nos propõe mudar estas relações de poder e como uma reeducação poderá alterar e transformar as lutas de classe.
            E é esta incursão na história que nos possibilita ver o nosso aluno de ontem, que tinha como características:
a)    Passividade – apenas recebia e processava os conteúdos preestabelecidos;
b)    Cumpridor de regras – não as questionava
c)    Visão individualizada de mundo
d)    A formação acadêmica/profissional era o fim de seu ciclo estudantil. Não mais precisava estudar.

QUEM É NOSSO ALUNO, QUAL É O SEU PERFIL?
            A partir da fundamentação das correntes progressistas, o papel do aluno passa a ter real função na escola brasileira, passando a exigir, cada vez mais, também da escola e do profissional da educação.
O profissional da educação, a partir desta compreensão histórica, vê e estuda estas mudanças, devendo procurar acordar pedagogicamente, alterando assim, a sua forma de ver o mundo e os alunos, que apresentam como características principais:
a)    Proativo – atua na construção de sua aprendizagem, considerando os conhecimentos anteriormente adquiridos;
b)    Participativo – argumenta, com coerência, no dia-a-dia da escola;
c)    Coletivo – ao buscar o conhecimento além da sala de aula, participa coletivamente.
d)    Tecnológico – sabe usar os recursos tecnológicos e multimidiáticos existentes em outras áreas do conhecimento.

DESAFIOS E ALTERNATIVAS:
            Não considero como problemas as atuais relações existentes hoje dentro do ambiente escolar e sim desafios. Portanto, a partir de suas características atuais, e considerando a formação até então de nossos profissionais, temos muitos desafios a superar pela frente, entre os quais podemos citar:
a)    Compreender que ninguém ensina ninguém, mas que todos podem educar-se e aprender mutuamente;
b)    Compreender que o aluno tem uma história de vida e que a educação/aprendizagem não acontece apenas na escola, mas também em outros ambientes de interatividade social;
c)    Despir-se do dogma de dono do saber e passar a atuar como mediador, sem que isto seja “rebaixar o seu poder e papel”;
d)    Buscar, na formação continuada e em serviço, novas formas de ver seu aluno, apresentar o seu conteúdo, nos seus aspectos significantes, indicando para o aluno o restante como aprendizagem complementar;
e)    Aceitar e passar a conhecer os recursos da tecnologia e incorporá-los ao seu fazer pedagógico, sem, contudo, abandonar de vez aqueles que considera o seu “porto seguro”.
Encarando estes desafios que vem encontrando e muitos outros que aparecerão no dia-a-dia da educação, o educador saberá se reinventar, se apaixonar novamente pelo ato educativo e ser não o molde que o aluno siga, as um referencial seguro a ser utilizado.
Se reinventando, se apaixonando, certamente não terá dificuldades em superar os obstáculos provocados pelos atos de indisciplina dos alunos, que nada mais são do que uma forma de “nos alertar” que alguma coisa precisa ser mudada.
REFERÊNCIAS:
FÁVERO SOBRINHO, Antonio. O aluno não é mais aquele! E agora, professor? A transfiguração histórica dos sujeitos da educação. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em movimento – perspectivas atuais, Belo Horizonte, MG, 2010.
GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. Ática, São Paulo: 1997.
PEREIRA, Eliaquim Barbosa. Indisciplina em sala de aula. http://www.artigonal.com/ciencia-artigos/indisciplina-em-sala-de-aula-1916212.html - acessado entre 09 e 21/04/2012.
TRAGTENBERG, Mauricio. Relações de poder na escola. http://www.espacoacademico.com.br/007/07trag_escola.htm. Acessando entre 09 e 15/04/2012
VASCONCELLOS, Celso dos S. Coordenação do Trabalho Pedagógico- do projeto político pedagógico ao cotidiano da sala de aula. Libertad, São Paulo: 2007.
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