*** Texto publicado como exercício acadêmico na disciplina Realidade Escolar e Trabalho Pedagógico, integrante do curso de especialização em Coordenação Pedagógica - UnB
Prof. Gilberto Alves Barbosa
BRASÍLIA
– ABRIL/2012
INTRODUÇÃO:
O
estudo e a abordagem de uma temática como esta, nos exige reflexão, autocritica
e um posicionamento político-pedagógico frente a atual realidade educacional
brasileira.
O
primeiro teste é encarar o questionamento “o que tem o aluno a ver com o nosso
trabalho de coordenador pedagógico, se vou tratar apenas com professores? Ele é
que tem que se preocupar com o aluno, não eu!”
Terrível
engano! Pois como nos esclarece Vasconcelos, em sua obra Coordenação do Trabalho
Pedagógico - do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula,
(Libertad, 2007), “O trabalho pedagógico
é o âmago das instituições de ensino... Implica tanta a atividade docente
quanto a discente, já que a aprendizagem, embora, se dando num contexto social,
depende, antes de tudo, da ação do aluno”.
E
quem é este aluno?
QUEM
FOI NOSSO ALUNO, QUAL ERA O SEU PERFIL?
Para responder a este
questionamento e para conhece-lo melhor, devemos conhecer a sua “infância
histórica”, seus diversos mundos, pois isto é que os caracterizava. Buscamos
conhece-lo recorrendo uma vez mais a Gadotti, que em sua obra Historias
das Ideias Pedagógicas (Ática, 2007).
Na
cultura oriental primitiva o aluno era mandado para a escola para iniciar-se na
vida e aprendia muito mais pela imitação e pela fala dos adultos. Outra
característica marcante desta época já era a prática da não violência.
Na
cultura grega, berço dos nossos antepassados pedagógicos e também fonte
inspiradora, os alunos eram educados dentro de uma racionalidade, buscando a
defesa dos seus direitos pela argumentação. Olha ai a origem dos tantos porquês
que diariamente escutamos. Também ali deu-se início ao processo de
competitividade no ambiente escolar, uma vez que eram várias as correntes
pedagógicas que procuravam fazer valer o seus princípios e objetivos.
Outra
cultura que não podemos desprezar daquele período é a romana, que teve como
marca o humanismo pedagógico.
Mais
recentemente, a partir do século XVII, começa o pensamento pedagógico moderno,
com a implantação da ciência em lugar da fé. Os padrões esperados dos alunos
foram inicialmente estabelecidos por Comênio.
A
revolução francesa, já no século XVIII fundamenta um novo perfil para o nosso
aluno, que passa a ter um mundo próprio e que precisa ser compreendido.
A
massificação da educação a partir deste período, como forma de diminuir as
desigualdades existentes, propicia o surgimento de várias correntes
pedagógicas, mudando o perfil de nosso aluno e que tiveram influências diretas
no pensamento pedagógico brasileiro.
Já
as correntes socialistas, que pregavam uma educação política, dava ao professor
a missão de ser um “militante ativo” e aos alunos-aprendizes, a característica
da auto-organização e autonomia de estudos.
O
escolanovismo veio a ser um potente movimento de renovação, propondo por
intermédio de Dewey (1859-1952), uma “ensino pela ação e não pela instrução”. O
aluno deveria aprender a partir de situação-problema. Surgiu ai o início do
trabalho com projetos escolares.
Paulo
Freire surge neste momento nos revelando que a “escola podia servir tanto para
a educação como prática de dominação, quanto para a educação enquanto prática
da liberdade”.
E
foi a partir deste momento que acirram-se as críticas aos antigos e
tradicionais métodos de educação. Bourdieu, Althusser e Passeron “enxergaram” a
função ideológica da escola e o papel do aluno neste processo.
Já
os pensadores brasileiros, ligados às correntes críticas e libertadoras da
educação, começaram a questionar as relações de poder na escola. Tragtemberg
enxerga a escola como disciplinadora e burocrática e nos propõe mudar estas
relações de poder e como uma reeducação poderá alterar e transformar as lutas
de classe.
E
é esta incursão na história que nos possibilita ver o nosso aluno de ontem, que
tinha como características:
a) Passividade
– apenas recebia e processava os conteúdos preestabelecidos;
b) Cumpridor
de regras – não as questionava
c) Visão
individualizada de mundo
d) A
formação acadêmica/profissional era o fim de seu ciclo estudantil. Não mais
precisava estudar.
QUEM
É NOSSO ALUNO, QUAL É O SEU PERFIL?
A
partir da fundamentação das correntes progressistas, o papel do aluno passa a
ter real função na escola brasileira, passando a exigir, cada vez mais, também
da escola e do profissional da educação.
O profissional da educação,
a partir desta compreensão histórica, vê e estuda estas mudanças, devendo
procurar acordar pedagogicamente, alterando assim, a sua forma de ver o mundo e
os alunos, que apresentam como características principais:
a) Proativo
– atua na construção de sua aprendizagem, considerando os conhecimentos
anteriormente adquiridos;
b) Participativo
– argumenta, com coerência, no dia-a-dia da escola;
c) Coletivo
– ao buscar o conhecimento além da sala de aula, participa coletivamente.
d) Tecnológico
– sabe usar os recursos tecnológicos e multimidiáticos existentes em outras
áreas do conhecimento.
DESAFIOS E ALTERNATIVAS:
Não
considero como problemas as atuais relações existentes hoje dentro do ambiente
escolar e sim desafios. Portanto, a partir de suas características atuais, e
considerando a formação até então de nossos profissionais, temos muitos
desafios a superar pela frente, entre os quais podemos citar:
a) Compreender
que ninguém ensina ninguém, mas que todos podem educar-se e aprender
mutuamente;
b) Compreender
que o aluno tem uma história de vida e que a educação/aprendizagem não acontece
apenas na escola, mas também em outros ambientes de interatividade social;
c) Despir-se
do dogma de dono do saber e passar a atuar como mediador, sem que isto seja
“rebaixar o seu poder e papel”;
d) Buscar,
na formação continuada e em serviço, novas formas de ver seu aluno, apresentar
o seu conteúdo, nos seus aspectos significantes, indicando para o aluno o
restante como aprendizagem complementar;
e) Aceitar
e passar a conhecer os recursos da tecnologia e incorporá-los ao seu fazer
pedagógico, sem, contudo, abandonar de vez aqueles que considera o seu “porto
seguro”.
Encarando
estes desafios que vem encontrando e muitos outros que aparecerão no dia-a-dia
da educação, o educador saberá se reinventar, se apaixonar novamente pelo ato
educativo e ser não o molde que o aluno siga, as um referencial seguro a ser
utilizado.
Se
reinventando, se apaixonando, certamente não terá dificuldades em superar os
obstáculos provocados pelos atos de indisciplina dos alunos, que nada mais são
do que uma forma de “nos alertar” que alguma coisa precisa ser mudada.
REFERÊNCIAS:
FÁVERO
SOBRINHO, Antonio. O aluno não é mais aquele! E agora, professor? A
transfiguração histórica dos sujeitos da educação. Anais do I Seminário
Nacional: Currículo em movimento – perspectivas atuais, Belo Horizonte, MG,
2010.
GADOTTI,
Moacir. História das Ideias Pedagógicas. Ática, São Paulo: 1997.
PEREIRA, Eliaquim
Barbosa. Indisciplina em sala de aula. http://www.artigonal.com/ciencia-artigos/indisciplina-em-sala-de-aula-1916212.html
- acessado entre 09 e 21/04/2012.
TRAGTENBERG,
Mauricio. Relações de poder na escola. http://www.espacoacademico.com.br/007/07trag_escola.htm.
Acessando entre 09 e 15/04/2012
VASCONCELLOS, Celso dos S.
Coordenação do Trabalho Pedagógico- do projeto político pedagógico ao cotidiano
da sala de aula. Libertad, São Paulo: 2007.
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