A
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NO CENÁRIO DA REALIDADE DA
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: PROBLEMAS E DESAFIOS.
Prof Gilberto Alves Barbosa. BRASÍLIA
– ABRIL/2012
*Texto publicado como exercício acadêmico por ocasião da disciplina Realidade Escolar e Trabalho Pedagógico, integrante do curso de especialização em Coordenação Pedagógica pela Universidade de Brasília/MEC .
INTRODUÇÃO
Ao iniciar uma reflexão
tendo como partida o enunciado “A construção da identidade do coordenador
pedagógico no cenário da realidade da educação brasileira: problemas e
desafios”, automaticamente somos remetidos ao processo histórico que permeia e
embasa a trajetória daquele profissional, bem como indagar: quem foi este
profissional no passado (não tal remoto)? Quem será no futuro? Que
características deverá possuir para executar, a contento, o papel esperado
pelos demais atores do processo ensino e aprendizagem?
Assim, por se tratar de um
“início de conversa”, iremos delimitar, historicamente, a sua área de atuação
até mesmo pela grandeza da diversidade de papeis que tem executado em face das
múltiplas realidades vivenciadas em um país de contrastes e dimensões
continentais que é o Brasil. Pais este que, notadamente nas duas últimas décadas,
tem tentado unificar as ações no setor educacional, apesar de pontualmente
seguirem “políticas de partidos” para o setor, e não, políticas públicas de
educação, variando assim de acordo com o momento histórico vivenciado.
Outro fator delimitante do
tema pesquisado é a ausência de publicações acadêmicas voltadas especificamente
para o exercício da função, bem como apenas recentemente tem surgidos cursos
destinados, academicamente, à formação destes profissionais.
REVISITANDO
A HISTÓRIA
Historicamente observamos
que o Coordenador Pedagógico, com esta denominação, não existia na estrutura da
maioria das instituições da rede pública de ensino no pais.
Durante a década de 1970,
ápice do movimento tecnicista, as funções de articulação e coordenação pedagógica
eram exercidas por profissionais habilitados em nível superior, ficando, na
hierarquia educacional, “abaixo” apenas da figura do diretor, que era a “figura
central” na estrutura escolar. Contudo, tal convivência provocava confrontos e
distensões na equipe diretora, uma vez que um “detinha o poder político”, o
outro o “poder técnico”.
Com a recuperação do “poder
político” pela sociedade brasileira, as relações sociais dentro da escola
passar a ter um novo enfoque e começaram a ser dados os primeiros passos no
caminho da discussão e participação coletiva.
A partir da década de 1980,
os movimentos educacionais buscam ampliar o seu espaço com a implantação de
novos projetos educacionais. As funções até então exercidas por técnicos e
especialista passam a ser realizadas por profissionais docentes com as mais
variadas formações acadêmicas.
Surge ai, para o autor, o primeiro problema na identidade do
coordenador pedagógico: após duas décadas vividas sob “regime de exceção”, a
busca de novas vivências e experiências pedagógicas fez com que muitos
ignorassem os processos até então existentes e buscassem novas práticas.
Que problema era este?
Esquecendo alguns princípios preconizados por Paulo Freire, notável e
respeitável educador, que em sua obras, notadamente Educação e Mudança (Paz & Terra, 1960), alertava que “não devíamos aceitar o novo por ser novo,
nem recusar o velho por ser velho, mas aceita-los na medida em que se
mostrassem válidos”, foram “jogados por terra” experiências da época e
buscadas novas concepções acadêmicas que contrapusessem às antigas existentes
no setor educacional.
Assim, começaram a
substituir os especialistas em educação por profissionais com habilitações
pedagógicas diversificadas, sem uma formação ou capacitação adequadas (segundo problema). No Distrito Federal,
nos anos que antecederam e iniciaram o período da chamada “Nova República”,
estes profissionais eram conhecidos como “Apoios Pedagógicos”.
O terceiro problema, ainda na visão do autor, começou quando estes
profissionais passaram a exercer as funções de acompanhamento, supervisão e
coordenação pedagógica, acompanhados de outros atividades que poderiam ser
executadas, sem qualquer sentido pejorativo ou depreciativo, por qualquer outro
funcionário da escola. Ainda nesta época o docente se via como o “salvador da
pátria”, esquecendo de compartilhar a tarefa com a comunidade família.
A partir da implantação da
Lei 9394/1996, lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que diga-se de
passagem ficou “em gestação” por mais de 20 anos, novos desafios tiveram que
ser enfrentados pelos docentes na escola: passaram, por força de lei, a serem
envolvidos diretamente na gestão da escola, compartilhando com a família e o
estado este novo papel.
Mudanças estas que novamente
mexeram com o coordenador pedagógico, que deixou o seu “caráter acessório”
passando a ser o responsável pela coordenação dos processos educacionais,
notadamente o de formação e capacitação, em serviço, dos docentes sob sua
supervisão.
O problema mais recente então passou a ser a não existência de
formação específica para a função, restringindo-se a escassas produções
escritas e cursos de formação. O atual curso, acredita o autor, tende a ser a
tendência acadêmica do futuro.
CONCLUINDO...
Diante de tais problemas,
não faltam desafios a serem superados
pelos postulantes à função de Coordenador Pedagógico, dentre os quais
listamos alguns: 1) A falta de um referencial teórico que
estabelecesse, academicamente, as verdadeiras atribuições e funções da
Coordenação Pedagógica; 2) A participação ativa do corpo docente na formulação
e elaboração do PPP da instituição de ensino; 3) A reduzida oferta de cursos de
formação continuada e a sua centralização nas dependências da EAPE; 4) O
desestímulo crescente nos últimos anos com a carreira pedagógica, uma vez que o
profissional se vê muitas vezes incompreendido pelos seus pares, pela
comunidade escolar e também pela equipe diretiva da instituição; 5) A falta de
valorização funcional no que diz respeito aos cursos realizados pelos
profissionais de ensino, e 6) A quase nula e inexistente plenária permanente
dos profissionais de ensino, onde, de forma sistemática e organizada em cada
regional de ensino, pudessem relatar e trocar experiências exitosas.
Assim, podemos concluir o presente texto acreditando
que a existência de cursos específicos, a permanente troca de experiências
exitosas e sobretudo, um referencial teórico firme e consistente, possibilitará
a superação dos atuais problemas enfrentados.
REFERENCIAS
FERNANDES,
Maria
José da Silva. O Professor Coordenador Pedagógico, a articulação do coletivo e
as condições de trabalho docente nas escolas públicas estaduais paulistas.
Afinal, o que resta a essa função? Texto postado na plataforma Moodle
relacionado a disciplina Realidade Escolar e Trabalho Pedagógico, Curso de
Especialização Coordenação Pedagógica, Universidade de Brasília, 2012.
LOMONICO,
Circe Ferreira. Coordenador pedagógico: o técnico e psicopedagogo
institucional. São Paulo: 3ª ed, Edcon 2005.
SANTOS,
Lucíola Licínio de Castro Paixão e OLIVEIRA,
Nilza Helena de. O Coordenador Pedagógico no Contexto de Gestão Democrática da
Escola. Texto postado na plataforma Moodle, relacionado a disciplina Realidade
Escolar e Trabalho Pedagógico, Curso de Especialização Coordenação Pedagógica,
Universidade de Brasília, 2012.
VALENTE,
Nelson. Sistemas de ensino e legislação educacional: estrutura e funcionamento
da educação básica e superior. São Paulo, Panorama, 2000.
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