"O ensino, em larga escala, ainda se encontra baseado em aulas expositivas e faz pouco uso das novidades encontradas fora dos muros da escola", afirma Gislaine Azevedo
É claro que os
Professores — como qualquer outro profissional preocupado com seu trabalho —
precisam se inteirar das novidades em sua área, mas será justo
responsabilizá-los pela efetivação da Educação do século 21? Se quisermos
entender melhor as responsabilidades e os limites do trabalho do Professor
nessa questão, pode ser útil percorrer os trilhos da história do nosso sistema
educacional.
Hoje, pode parecer
natural pensar que crianças e jovens vão à Escola para estudar. Porém essa
ideia é recente em termos históricos. Foi após a Revolução Industrial e,
principalmente, após a Revolução Francesa que a Educação apareceu como
necessidade universal, laica e de responsabilidade do Estado. Dentro do
contexto de virada do século 18 para o 19, surgiram os Sistemas Nacionais de
Ensino, que, em boa medida, funcionam no mundo ocidental até hoje e cuja base é
“voltada para a transmissão do conhecimento acumulado pela humanidade e
sistematizado logicamente”, como descreve o Professor Dermeval Saviane.
Nesse contexto, a
Escola nasce e se configura como espaço fechado, com salas de aula onde os
Alunos devem permanecer sentados em fileiras, ouvindo e copiando as informações
transmitidas pelo Professor durante 50 minutos (esse foi considerado o tempo
médio capaz de atrair a atenção de um estudante na época).
Mas hoje vivemos
em outro tempo histórico e os jovens do século 21 têm uma realidade bastante
diferente da dos Alunos do passado. Vivemos em uma realidade marcada por
mudanças que se reconstroem a cada segundo: novas tecnologias, redes sociais,
bombardeio de imagens por meio da televisão, internet, videogame, novos valores
culturais, sociais e econômicos. Tanto a forma de adquirir conhecimento quanto
o conhecimento em si estão inseridos em outra realidade, não mais estanque ou
compartimentada.
Porém, ao mesmo
tempo em que a sociedade convive com as novidades, nosso modelo educacional
continua, em grande parte, atrelado às estruturas do século 19. O Ensino, em
larga escala, ainda se encontra baseado em aulas expositivas e faz pouco uso
das novidades encontradas fora dos muros da Escola. Para agravar ainda mais a
situação, pesquisas recentes com neurociências e psicologia mostraram que o
tempo de atenção de um Aluno de hoje em uma aula é de seis minutos, quando
muito, chega-se a 20 minutos.
O Professor fica
no meio do fogo cruzado: trabalha em ambiente cuja estrutura se fundamenta nos
século 19, mas lida com os jovens que vivem o século 21. Claro que, em seu
cotidiano, o Professor — formado a partir de conceitos pedagógicos do século 20
— pode e deve lançar mão de ferramentas que permitam que as aulas estejam mais
ligadas à realidade do Aluno, como trabalho mais sistemático com imagens, jogos
(eletrônicos ou não), construção de blogues, produção de filmes etc. São
recursos que atraem os estudantes ansiosos por tarefas mais interativas e menos
contemplativas.
Mas não adianta
simplesmente o Professor ser do século 21 se a Escola como um todo não o for.
Por isso, torna-se urgente construir uma Escola que tenha como base a sociedade
deste século. Uma Escola que funcione amparada nas necessidades e na realidade
de seu entorno; onde os Alunos se sintam desejosos de participar por verem suas
realidades e sonhos discutidos e inseridos no programa Escolar; em que o espaço
de circulação e aprendizagem não fique restrito à sala de aula; onde o
mobiliário seja pensado para a nova realidade; onde a arte e o esporte sejam
verdadeiramente recurso pedagógico; onde as diferenças sejam valorizadas e
respeitadas e onde o erro seja apenas uma das etapas da aprendizagem.
GISLANE AZEVEDO - Historiadora, é presidente da Associação Brasileira dos Autores de Livros
Educativos (Abrale)
FONTE
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